terça-feira, 22 de março de 2011

Unidade II. História da História: Os diversos regimes de historicidade Antiquarismo e iluminismo: por uma história racional (séculos XVI-XVII-XVIII).

II. História da História: Os diversos regimes de historicidade
Antiquarismo e iluminismo: por uma história racional (séculos XVI-XVII-XVIII).

A concepção dominante de história, do Renascimento às Luzes, foi a concepção de história exemplar, didática e o próprio método usado baseia-se em lugares comuns tirados dos estóicos, reitores e historiadores romanos. A história volta a ser um ensinamento para os governantes, como o tempo de Políbio. Esta concepção de história magistra vitae inspirou estudos parciais, tratados de história e vários outros gêneros de escrita histórica(as chamadas artes historicae), preocupadas em consolidar os métodos de tratamento documental. Bem ao gosto do movimento antiquarista.
O movimento antiquarista caracteriza a consolidação de uma história erudita que, em grande medida, comporia as regras básicas para a elaboração de uma escola metódica, no século XIX, precursora de uma história científica que se imporia como norma metodológica para o campo da história. A história erudita se caracteriza por quatro aspectos fundamentais:
a.  culto das peças originais, cartas, decretos reais, bulas pontifícias, assim como o dos selos e brasões, ligados uns e outros à obsessão  e de esclarecer a origem dos poderes e das intituições.
b. publicação de instrumentos de trabalhos adaptados, para a plena interpretação dos documentos acima referidos
c.  definição da operação histórica como sendo um trabalho sobre textos, inspirando-se nos trabalhos de gramática e de exegese
d. objetivo máximo da história erudita: edificar uma cronologia exata pelo confronto sistemático dos testemunhos.
A história dos filósofos das Luzes que se esforçaram por a tornar racional, abertas às noções de civilização e progresso, não substituiu a concepção de história exemplar e a história ficou de fora da grande revolução científica dos séculos XVII e XVIII. A oposição entre o historiador-antiquário e o historiador filósofo continuaria até o século XIX, com a vitória do erudito sobre o filósofo, através do predomínio do historicismo como corrente predominante no pensamento histórico ocidental.
Em termos de tendências gerais, o pensamento histórico dos séculos XVI ao XVIII é assinalado pela idéia duma história nova, global, a história perfeita, e por progressos importantes de método e de crítica histórica. Sinteticamente é possível delimitar três idéias que permearam os escritos históricos desta época:
1° A história não é pura narração ou obra literária. Deve procurar as causas.
2° O objeto da história é constituído pelas civilizações  e a civilização. A história começa antes da escrita. É também a história dos tempos em que os homens eram “rurais e não civilizados”
3° A história deve ser universal no sentido mais completo do termo.

Filosofias da História
A época das Luzes foi, particularmente, profícua ao surgimento de filosofias da história. Nascem então as idéias do devir da matéria, da evolução das espécies e do progresso dos seres humanos. Pensadores como Voltaire, Kant ou Condorcet acreditam num movimento ascendente da humanidade em direção a um Estado ideal. No século XIX, sob o impacto da Revolução Francesa e de outras revoluções na Europa, floresceram filosofias da história. Quer sejam religiosas ou atéias, otimistas ou pessimistas, têm todas em comum descobrir um sentido para a história. As doutrinas de Hegel e de Comte representam modelos do gênero: organizam os períodos, apreciam as mudanças ou as permanências, interpretam a evolução geral do mundo com o auxílio de um princípio único - a marcha do Espírito ( no caso de Hegel) ou a lei dos três estados (Comte). De uma certa maneira, Marx, que fez do materialismo histórico uma teoria científica ligada a uma prática revolucionária, não sai inteiramente do âmbito da filosofia da história na medida em que, para ele, a evolução da humanidade permanece orientada para um fim.

Bibliografia utilizada:
Bourdé, Guy & Martin, Hervé, As escolas históricas, Lisboa, Europa-américa, 1983, capítulos III e IV.
Le goff, Jacques. História. Enciclopédia Einaudi, Vol. I Memória-História, Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1985.

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