terça-feira, 22 de março de 2011

Unidade I - HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS: UMA INTRODUÇÃO.

História e Ciências Sociais: uma introdução.
Em cada contexto a História se reveste de um significado específico, daí a relevância de se estudar a História da História ( como a disciplina foi se constituindo ao longo do tempo como campo de saber), estabelecer as principiais correntes que compõem o campo da  prática historiadora, compreender como esta prática está vinculada às disputas de poder em torno do controle da memória social e que, acima de tudo, uma interpretação histórica que rejeita o conflito e, tende a ver as sociedades como totalidades harmônicas, está longe de ser uma disciplina crítica e transformadora.
Além disso, é fundamental avaliar-se, para termos em conta o estado atual da oficina histórica, a relação que esta disciplina estabelece com as Ciências Sociais, a saber: Antropologia, Sociologia, Ciência Política e Economia. Além dos contatos mais recentes e menos tradicionais, tais como: a Literatura, Lingüística, a Semiologia e a Semiótica, e os já consolidados como com a Geografia  e a História da Arte.
A relação que a história estabelece com estas disciplinas também vem se modificando ao longo do tempo e, de diferentes maneiras, em contextos acadêmicos distintos. Vale lembrar, que o século XX superou a noção de ciências auxiliares da história, reforçando  este relacionamento interdisciplinar no sentido de romper com a perspectiva imperialista da história, e situar as possibilidades de contato no marco de uma discussão de caráter teórico-metodológico. Daí, atualmente, todo o debate sobre o campo da história centrar-se em propostas transdisciplinares, ou seja, mais do que uma mera colaboração entre disciplinas, ou um trabalho em equipe, o que se discute é a capacidade da história teorizar sobre seus objetos de estudo e opera-los a partir de metodologias coordenadas, como por exemplo a análise das relações sociais a partir do estudo das redes de sociabilidade tal como Antropologia propõe, utilizando-se para tanto de um aporte semiótico par se avaliar os códigos de comportamento e as representações sociais que caracterizam a distinção social entre os diferentes grupos.
Pontuar temporalmente a dinâmica deste relacionamento de disciplinas é fundamental para entender-se a própria dinâmica da escrita da história e da prática historiadora atuais.
Anos 1920/30 – Surgimento do grupo dos Annales na figura de Marc Bloch e Lucien Febvre, este último geógrafo de formação. No contexto de surgimento desta nova abordagem histórica a influência da sociologia durkheimiana e da abordagem estruturalista de George Dumézil. No Brasil a escola história manteve-se isolada deste tipo de interação limitada ao IHGB, no entanto fora do campo dos hiostoriadores tradicionais, a escrita da história se renovava com os escritos de Gilberto Freyre (antropólogo); Sérgio Buarque de Holanda (historiador) e Caio Prado Junior (historiador), buscando cada qual a sua maneira escrever uma história total das relações sociais.
Anos 1940/50 – a historiografia francesa sob a liderança de Fernand Braudel reaproxima-se da geografia e busca compreender a lógica das sociedades no marco da sua espacialidade e da longa duração. Sofistica-se a discussão sobre o tempo na história, rompendo-se com uma perspectiva linear do tempo. Neste período, a história se aproxima das Ciências Sociais, através dos area studies, grupos de cooperação disciplinar em torno de certos temas. No Brasil a história acadêmica passa sofrer forte influência da sociologia histórica da escola paulista encabeçada por Florestan Fernandes.
Ainda nos anos 1950, fora do contexto francês, zona de influência direta da cultura letrada brasileira, um grupo de historiadores progressistas, ligados ao Partido Comunista Inglês e associados aos movimentos sociais na Inglaterra, organizam as history work shops. Estes eram grupos de trabalho comunitário voltados para uma perspectiva de história fora do circuito da elite, uma história que “vinha de baixo”. Este grupo de historiadores ficou conhecido como a New left ou o grupo do marxismo britânico – dentre eles: E.P. Thompson, Eric Hobsbawn, Christopher Hill, entre outros.
Anos 1960/70 – anos de importantes transformações sociais que marcaram de forma decisiva a escrita e a prática historiadora. A história se engaja nos movimentos sociais e amplia seu universo de análise, sendo a abordagem histórica adotada amplamente por sociólogos, cientistas políticos e filósofos. No Brasil escreve-se história mais nos centros de ciências sociais do que nas faculdades de história. A abordagem histórica, bem como a pesquisa histórica, começa a ser discutida em termos da reformulação do campo historiográfico da história, movimento que se complementaria nos anos subsequentes.
Anos 1980/90 –período marcado pelo revigoramento da escrita da história que, num movimento desde seu próprio campo, passa a se utilizar de reflexões teóricas das demais disciplinas das ciências humanas no sentido de elaborar, de maneira mais adequada, o tratamento sobre os novos objetos que se colocam como relevantes. Portanto é um período que se caracteriza pela consolidação das novas abordagens, novos objetos e novos problemas.
Ao mesmo tempo, os anos noventa, principalmente a sua segunda metade foi, gradualmente, sendo dominado pelas discussões em torno da crise dos paradigmas: iluminista X pós-modernos; racionalistas X irracionalistas, etc. Debates que incluíam questões teóricas tais como: a morte dos sujeitos sociais/coletivos; o fim dos modelos de explicação holisticas; redefinição das escalas dos objetos de estudo da história; o fim das metanarrativas e a predomínio  de uma epistemologia da história de base sensivelmente idealista, pautada na possibilidade de múltiplas narrativas históricas, igualmente válidas, devido a perda na crença nos critérios de validação racionais.

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